Uma órbita de Júpiter em volta do sol demora 12 anos, eu demorei menos para concluir o “Poems From Jupiter”. A ideia de criar este trabalho começou em 2018 numa fase em que não estava a produzir. então, propus-me a construir um trabalho extenso e depois fazer EP’s com alguma regularidade em pequeno número. Projetei acabar o álbum no final do verão de 2019, depois só tive de esperar pelos remixes do Dark Quadrant, Raphael Dincsoy e Ikigai. Apesar deste planeamento, não foi fácil gerir o tempo para criar, porque possuo um trabalho que me ocupa 40 horas semanais e ainda tenho de gerir a Underdub Records. A família e amigos sofreram um pouco com a minha ausência para que eu conseguisse concluir o álbum. Portanto, estou-lhes grato pela compreensão e apoio.
Entrevista Vitor Saguanza

Todas as faixas tiveram especial atenção, queria que este álbum fosse coeso, mas posso dizer que as minhas favoritas são a “Stanzas” e a “Modern Voodoo”. Eu gosto da temática do ocultismo e, por isso, a maior parte dos nomes veem daí. “Morgana” é a designação de uma bruxa da antiguidade que também é o nome da minha cadela que esteve presente na maior parte do processo de construção deste álbum. Então, esta música tem o nome dela como dedicatória.
Na minha opinião, quando criamos temos de usar toda a influência por nós retida e, neste trabalho, não tive medo de usar alguns elementos de psy-trance que ouvia na juventude. Eu consumia muito trance tipo Kox Box, Xenomorph, Dark Nebula, Logic Bomb… na música “Stanzas” tem algo dessa influência. No entanto, ouço vários tipos de música: gosto muito de Tool, Hans Zimmer, Aes Dana, Enigma e é possível que isso me tenha influenciado. Mas quanto ao techno, neste momento, acho geniais os trabalhos de Headless Horseman, VSK, SNST, Oake e Tommy Four Seven. São uma inspiração.
Alinho os chakras e uso o poder da clarividência para me dar a altura certa sobre quando lançar as músicas. Lol! O trabalho “Poems From Jupiter” foi planeado para sair na altura em que tinha mais tempo disponível, enquanto que os outros estavam dependentes da agenda das editoras. “Discrete” foi um trabalho pedido pela minha amiga Pooja B para ajudar uma label nova do Dubai, a Kitchen Sync. A “Tension” foi uma re-edição da Zuno.
“Não precisas de ser amigo de alguém para trabalhar em conjunto, basta respeitares o trabalho dessa pessoa.“
O meu interesse é ajudar apenas os artistas que trabalham na Underdub Records. Quero ser útil no que conseguir, de forma a que o crescimento deles como artistas envolva várias áreas em simultâneo, como a produção, djing, promoção, etc… Dentro da nossa editora promovemos a colaboração entre artistas para um maior desenvolvimento e evolução. Esta é uma estratégia que tem dado bons resultados.
A difusão nunca vai ser justa tal como não o é em outros géneros musicais, mas há muito que os jovens artistas podem fazer para se mostrar. Primeiro, não procrastinar e ter objetivos claros relativamente ao que querem fazer. Este é um meio muito competitivo e gastas muito dinheiro a adquirir material para trabalhar. Tens de ter noção: se não estás numa cidade grande vais ter que fazer o dobro para mostrar o teu trabalho. Vais ter que arriscar a fazer eventos por tua conta, entre outras atividades como workshops e palestras, porque este meio em que estamos inseridos não consegue ser sustentável só a fazer eventos. Se o teu público não compreende o que crias é da tua responsabilidade explicar. Colaborar com outros artistas é também importante: Não precisas de ser amigo de alguém para trabalhar em conjunto, basta respeitares o trabalho dessa pessoa. Vais aprender técnicas novas, de certeza, e evoluir mais depressa. Tenho visto bons exemplos que têm feito a nossa “cena” crescer. Tais como a Rádio Breca, um coletivo que junta música, vídeo e imagem num espaço de trabalho. Além de terem a rádio que divulga música eletrónica, também realizam eventos em que mais de 90% são artistas nacionais e fazem um serviço de live stream impecável. Já a Dark Sessions, um movimento de Braga, faz questão que o line up seja constituído na sua maioria por artistas locais, isso é importante para a valorização de talentos emergentes. Já tive o prazer de tocar num evento organizado por eles e conseguem ter um bonito ambiente underground. A verdade é que nossa arte nem um século tem e há muito por se fazer e aprender. Os artistas e as pessoas que estão envolvidas neste meio tem a responsabilidade de cuidar disto tudo.